Foi durante um almoço de trabalho que o assunto surgiu: a prisão do MC Poze do Rodo. O que parecia só mais um comentário sobre um artista famoso detido no Rio rapidamente virou um debate. Afinal, por que algumas prisões acontecem de maneira rígida e outras nem tanto? Nós temos duas vertentes hoje no nosso país: o tratamento de uma pessoa preta e periférica para uma pessoa que não é. Há uma separação e um tratamento diferente no Brasil.
A cena foi transmitida em rede nacional: no fim da madrugada do dia 28 de maio, policiais civis entraram na residência do funkeiro, algemaram ele sem resistência e o conduziram à delegacia com as mãos no pescoço, um gesto simbólico. Marlon Brandon Coelho Couto Silva, o Poze do Rodo (nome que homenageia suas raízes na Comunidade do Rodo, em Niterói), tornou-se mais um rosto famoso na galeria de artistas negros e favelados tratados com rigor excessivo pela polícia.
Mas o que realmente chama a atenção não é a prisão em si. A Justiça deve agir diante de investigações sérias. E eu não estou aqui para comentar se o artista deveria ser preso ou não. Pois segundo informações, Marlon é investigado por apologia ao crime e por envolvimento com uma facção criminosa do Rio de Janeiro.
Enquanto Poze era imobilizado como um perigoso criminoso, em 2024, o bicheiro Rogério Andrade, acusado de homicídio e pertencer a milícia, era levado sem algemas, de cabeça erguida, como se escoltasse os próprios agentes.
E quem não lembra do ex-deputado Roberto Jefferson, que, após atirar contra policiais federais em 2022, na parta da sua residência, em Comendador Levy Gasparian, cidade do interior do Rio de Janeiro, foi preso em clima de camaradagem? As cenas de agentes, rindo e conversando com ele, correram o mundo. Eu posso elencar dezenas de casos, mas por hoje não.
A Pergunta que Não Quer Calar: Por que um jovem negro do funk é tratado como ameaça antes mesmo da condenação, enquanto figuras poderosas (e muitas vezes com crimes mais graves) recebem cortesia policial?
Até hoje o funk, nascido nas periferias, ainda é estigmatizado como “apologia ao crime”, enquanto outros gêneros romantizam violência sem represálias. Criminalização da cultura.
E Agora a discussão vai além de Poze. É sobre racismo estrutural, sobre como a cor da pele e o CEP ditam se você será tratado como cidadão ou criminoso. Eu mesmo já fui parado em várias abordagens policiais e tratado de forma “diferente” a de outras pessoas que eu pude presenciar. Colegas já me relataram o mesmo. Enquanto uns são ”conduzidos”, outros são ”arrastados”. A sociedade precisa decidir se aceita essa desigualdade.
Ah… sobre a aglomeração de pessoas na porta da prisão onde o MC estava preso, achei uma atitude irresponsável de quem incentivou. Mas não dava para imaginar algo diferente, pelo tamanho do cantor, no sentido de seguidores na internet.