O prefeito Álvaro Damião não deixou claro se a medida de “cercar a cidade com câmeras” foi inspirada em Tel Aviv. Afinal, ele e o secretário de Segurança, Márcio Lobato, estiveram em Israel, e o motivo principal da viagem, segundo anunciaram, era justamente conhecer e trazer para a capital mineira experiências na área de segurança.
De toda forma, o fato é que, a depender da atual administração, Belo Horizonte deve se transformar em breve em uma cidade amplamente monitorada.
Em coletiva na última sexta-feira (08/08), o prefeito anunciou que, além da convocação de 500 novos guardas municipais — os excedentes do concurso de 2019 —, eles devem estar nas ruas em até 12 meses, após passarem por exames e demais etapas do processo seletivo. Como “spoiler”, Damião adiantou que a prefeitura pretende adquirir novas bicicletas equipadas com câmeras de reconhecimento facial e, sobretudo, “cercar a cidade com câmeras” para coibir vandalismo, furtos e roubos.
No entanto, não há consenso científico sobre a relação direta entre a instalação de câmeras e a redução de crimes de forma geral. O que se observa é o afastamento de determinados tipos de ocorrências nas áreas monitoradas, enquanto outras migram para regiões com menor vigilância. Mais importante: a maioria dos estudos aponta que equipamentos de monitoramento, sozinhos, não resolvem o problema. É preciso um trabalho robusto de inteligência e, principalmente, de integração entre forças de segurança para que a tecnologia tenha efeito real. Afinal, não são raros os casos de crimes registrados em vídeo sem que isso tenha impedido a ação criminosa.
Por outro lado, não se pode negar que as câmeras podem gerar a chamada “sensação de segurança”, transmitindo a ideia de que o cidadão está protegido — ou, ao menos, vigiado. Essa lógica não é exclusiva do município. No âmbito estadual, por exemplo, a Polícia Militar já recorre ao uso de drones com câmeras de reconhecimento facial. A tecnologia é capaz de identificar pessoas com mandado de prisão em aberto e, em seguida, se aproximar para emitir voz de prisão. Durante o Carnaval em Belo Horizonte, a ferramenta auxiliou na captura de pelo menos 72 pessoas.
O desafio, portanto, não está apenas em multiplicar câmeras, drones ou bicicletas tecnológicas, mas em garantir que toda essa infraestrutura sirva a uma estratégia de segurança eficiente, coordenada (município e estado) e que não se limite a vigiar — mas, de fato, a proteger.