Por uma cidade (sempre) viva

Por uma cidade (sempre) viva 

A cidade é um organismo vivo. Bem vivo. Ela nasce, cresce, se desenvolve, avança e retrocede. É nesse movimento que ela, a cidade, acontece. Mas ela não é um ser amorfo ou abstrato: materializa-se em seu povo. O povo é a cidade. São os moradores e sua relação com o território que dão sentido a tudo isso. Essa relação é capaz, por exemplo, de desfazer mitos, ideias pré-concebidas e forjadas em um imaginário pouco prático ou que serve a algum interesse. 

Em um passado bem recente, ouvia-se como verdade absoluta que Belo Horizonte, a capital mineira, era apenas um lugar de passagem. Aqui, nada acontecia, pelo menos no sentido de imprevisibilidade ou ousadia. Diziam, vejam só, que aqui era uma “roça iluminada”. E aqui abro um parêntese para contestar tal alcunha, como se a “roça”, o campo, o ambiente rural, fosse um lugar pouco interessante. Fecho parêntese. 

A cidade mudou. E certas “verdades” de outrora caíram por terra. E sabe quem foi o responsável por ressignificar a capital mineira, esse território rodeado por serras? O povo. Sim, sempre ele. Nos idos de 2010, uma folia represada começou a ganhar vida depois que o prefeito da época, Marcio Lacerda, resolveu fechar uma praça para eventos públicos. Moradores contestaram. A Praça da Estação virou praia. 

Ruas e avenidas passaram a ser ocupadas de forma espontânea pelos moradores em busca de música, cultura… Eles queriam vivenciar a cidade. E não há forma melhor de se viver a urbe do que com o pé no asfalto. A administração pública teve de correr atrás e organizar a festança. 

Por causa do Carnaval de rua, vários lugares da cidade, antes colocados à margem, passaram a ganhar novos contornos. A própria Praça da Estação conquistou outro status. Perto dali, o baixio do Viaduto de Santa Tereza, que já recebia o “Duelo de MC’s” bem antes da festa momesca, ganhou ainda mais força cultural com os blocos de rua. 

Uma praça no bairro Carlos Prates chegou até a ser apelidada de Praça Pisa na Fulô, nome de um bloco de carnaval de forró. Ali foram realizados os primeiros ensaios do grupo. Anos depois, o lugar foi ressignificado com a abertura de points gastronômicos. 

A cidade ganhou recentemente mais um espaço que promete agitar a folia: a Praça da Independência, na avenida Afonso Pena. A área estava sufocada sob um “puxadinho” construído nos anos 1980, entre as torres Sulacap e Sulamérica.  

O puxadinho foi ao chão para que a praça pudesse, enfim, respirar e se abrir novamente para a cidade e seu povo. Assim, Belo Horizonte ganhou mais um espaço de encontro, de celebração e de pertencimento, mais uma prova de que a cidade não para de se reinventar. 

A cidade pulsa, se transforma, se reconstrói a cada passo de quem a habita. E é nesse movimento, feito de avanços, recuos e novas ocupações, que a cidade se realiza em carne, concreto e festa, mas, sobretudo, em gente.  

Jornalista: Rafael Campos
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