O que nos resta é a utopia

Por: Rafael Campos

O debate sobre o transporte público em Belo Horizonte ganhou novo fôlego com a proposta do Tarifa Zero. Para alguns, trata-se de uma utopia cara demais. Para outros, um avanço inevitável, capaz de reposicionar a cidade no mapa das políticas urbanas inovadoras. E você, de que lado está? 

Não seria a hora, e o momento, de apostarmos nessa “utopia”? Afinal, como lembrava Paulo Freire, sem horizonte de esperança não há transformação. E hoje, para a maioria da população, sobretudo a mais pobre, o horizonte anda curto demais. Num país marcado por desigualdades profundas, o acesso à mobilidade é, antes de tudo, uma questão de justiça social. 

Tornar o transporte público gratuito significa devolver às pessoas o direito de circular pela cidade sem que a renda seja um obstáculo. Isso amplia o acesso à saúde e à educação, abre oportunidades de emprego e lazer, e ainda fortalece a economia local. Experiências no Brasil e no exterior já mostraram: tarifa zero não é apenas uma boa ideia, é uma política de transformação real. 

Mas vamos sair do campo da utopia e colocar “na ponta do lápis”: quem paga a conta? Essa é a pergunta mais comum. Em Belo Horizonte, pesquisadores da Faculdade de Economia da UFMG indicam que a taxa corresponderia a menos de 1% da folha salarial da maioria das empresas, e microempresas sequer entrariam no cálculo. Ou seja, o custo é diluído e o benefício é coletivo. E não são só os cidadãos que ganham: empresas também se beneficiam com trabalhadores que não precisam arcar com o transporte, o que redistribui renda, estimula o consumo e movimenta a economia. 

Outro argumento recorrente, e questionável, é o de que o projeto exigiria mais ônibus nas ruas. Mas estudos e experiências de outras cidades mostram o contrário: o crescimento da demanda acontece, sobretudo, nos horários de entrepico, quando há menos movimento. Ou seja, não se trata de sobrecarregar o sistema, mas de aproveitá-lo melhor. 

Há estudos, há exemplos concretos, há cidades que já vivem essa realidade. Que tal conhecermos algumas delas de perto? Em Belo Horizonte, pelo menos 25 vereadores já aderiram à proposta. Estamos mais próximos do que nunca de torná-la realidade. 

E quando a pergunta “Quem vai pagar a conta?” voltar à roda, talvez a melhor resposta seja: a população já pagou o bastante, não acha? 

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