Nenhum ciclista a menos

O tempo é relativo, já teorizou Einstein. Para alguns, ele se alarga ou quase paralisa. Para outros, corre rápido demais. Na prática, os ciclistas de Belo Horizonte aguardam, há muito tempo, o que está previsto no Plano Diretor vigente: 400 quilômetros de ciclovias (até agora cerca de 25% foram concluídos). Para quem não é lá muito fã da ideia, o objetivo parece ser justamente retardar esse processo — fazer o tempo quase parar, travar o andamento. Tudo deveria acontecer a passos de tartaruga. 

Mas Cazuza já nos alertava: apesar de relativo, o tempo não para. A vida segue, a despeito das expectativas díspares, e ele, o tempo, tende a ser implacável. Enquanto as vias exclusivas para pedalar não se tornam uma realidade viável e segura, os ciclistas continuam sendo, há muito, os personagens mais vulneráveis no centro urbano. 

No último dia 3 de julho, um ciclista de 30 anos perdeu a vida na avenida Raja Gabáglia. Segundo o boletim de ocorrência, ele teria se desequilibrado ao passar pelo canteiro central e colidido com um ônibus. Não é difícil imaginar que, se existissem pistas seguras para pedalar, mesmo em vias importantes e movimentadas como a Raja, notícias como essa seriam bem mais raras. 

Além do motivo óbvio, que é evitar mortes, a implantação de faixas exclusivas e bem sinalizadas para esse público impactaria positivamente o trânsito e, claro, o meio ambiente também agradeceria. 

Pelos lados da avenida Afonso Pena, o tempo parece mesmo ter quase parado. Desde abril do ano passado, as obras da ciclovia nesse importante corredor estão paralisadas e judicializadas. Avançaram apenas 500 metros dos 4,2 quilômetros previstos. O Ministério Público solicitou a Licença Urbanística, autorização exigida quando o empreendimento tende a impactar significativamente a via urbana. Atualmente, o processo está sendo analisado em primeira instância.  

Ciclistas questionam o fato de o mesmo documento não ter sido exigido para grandes projetos, como a pista da Stock Car, na Pampulha. De toda forma, o ciclista Cristiano Scarpelli, do grupo Ciclo Rota BH e um dos representantes do movimento do pedal na cidade, afirmou a esta coluna que já foi solicitado ao Conselho Municipal de Política Urbana o tal licenciamento urbanístico. Se isso for feito, a ação do MPMG perde sentido.  

“A verdade é que a prefeitura também pode resolver isso. Emitir esse licenciamento leva menos tempo do que esperar por uma decisão judicial”, disse. Tic-tac.  

Jornalista: Rafael Campos
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