Belo Horizonte: A Cidade Planejada para Poucos e a Exclusão que Persiste

Mande-os de volta.

Belo Horizonte foi planejada e construída no final do século XIX, tendo como princípios fundamentais a ordem, o progresso e a higiene. O projeto da nova capital mineira, elaborado sob forte influência do urbanismo europeu, especialmente do modelo de Paris, buscava criar uma cidade moderna, racional e “higiênica”, em oposição ao antigo Arraial do Curral Del Rey, considerado insalubre e desorganizado. 

A demolição das antigas moradias, conhecidas como “cafuas”, foi parte central desse processo. Essas habitações, humildes e frequentemente associadas à população negra, foram sistematicamente removidas para dar lugar às novas construções e, sobretudo, aos edifícios do novo centro administrativo e residencial da elite da época. Um dos episódios emblemáticos desse movimento foi a remoção da casa de Maria Papuda, mulher negra, cuja residência foi demolida para a construção do Palácio da Liberdade, sede do governo estadual e símbolo do novo poder político e social. 

O plano urbanístico previa uma clara separação socioespacial: o centro, delimitado pela Avenida do Contorno, seria reservado às classes abastadas, com casarões, edifícios públicos e infraestrutura moderna. Já os antigos moradores do Curral Del Rey foram forçados a migrar para as áreas periféricas, frequentemente sem infraestrutura e sujeitas a riscos ambientais. 

O acesso à moradia dentro do novo perímetro urbano era condicionado a exigências financeiras e legais que a maioria não conseguia cumprir, reforçando a exclusão social. 

E não é que o discurso higienista de outrora, volta e meia, passa a vigorar também no tempo presente? Correm na Câmara Municipal de BH projetos que preveem por exemplo, auxílio para moradores em situação de rua retornarem às suas cidades de origem, “caso desejem”, e ainda: a proposta de internação compulsória para dependentes químicos que também vivem nas ruas. 

Mas a capital mineira não precisa dessas soluções simplistas, superficiais tal como uma piscina infantil. A população em situação de rua cresce a cada ano, e não só aqui na nossa capital mineira. Propostas do tipo têm a intenção não de acolher, compreender ou problematizar o tema, mas sim extirpar das vias e calçadas pessoas que por inúmeros motivos estão nessa situação.  

Para construir uma cidade verdadeiramente justa e inclusiva, é preciso romper com esse passado e apostar em políticas que promovam pertencimento, dignidade e cidadania para todos os seus habitantes. Afinal, uma cidade só é moderna quando acolhe e cuida de todos, sem relegar ninguém às margens de sua própria história. 

Jornalista: Rafael Campos
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