Existe amor em BH?

Não sei você, caro leitor ou leitora, mas recentemente entendi que, para mim, caminhar pelo cenário urbano é uma atividade prazerosa, desde que eu não me depare com fios “cortando” a paisagem e a arquitetura dos prédios. Nunca fui a Paris, mas vamos lá. Faça um teste agora. Eu espero… Acesse o Google e “passeie” pelas ruas parisienses. Não há fios sobre postes, nem qualquer emaranhado de fiação atrapalhando aquele registro instagramável. Seria isso o que ajuda a conferir à terra de Monet e Renoir uma aura romântica? Bom, talvez. 

 

 

Criolo já cantou: “Não existe amor em SP”. Dá pra entender quando olhamos para o dado de que, na “terra da garoa”, apenas 0,3% da malha elétrica é subterrânea. A despeito da lentidão para colocar a ideia em prática, os paulistanos ao menos ousaram tirar o projeto do papel. Criaram o “SP Sem Fio”. A coisa anda a passos de tartaruga. Mas, pelo menos, anda. 

E a nossa Belo Horizonte? Já imaginou caminhar por ruas e avenidas sem fiação aérea? O então vereador Fred Costa chegou a propor isso em 2006, mas não avançou. A ideia era substituir postes por árvores. Voltaríamos a receber a alcunha de Cidade Jardim? A proposta, para os mais céticos, pode soar utópica, ou mesmo romântica. E não há tanto exagero nisso. 

O principal motivo do diagnóstico? O custo que a PBH teria de desembolsar para a empreitada. Estamos falando de bilhões de reais. O ex-vereador e presidente da Câmara Municipal de BH, Gabriel Azevedo — ainda como candidato à prefeitura — chegou a incluir a iniciativa em seu plano de governo. 

Ele, inclusive, foi um dos consultados para a feitura desta coluna. Entusiasta e estudioso do tema cidades, Gabriel já se debruçou sobre o assunto:  “Estima-se que apenas cerca de 2% da rede elétrica de BH seja subterrânea. Ou seja, 98% ainda estão em postes”, indicou. Com base em custos de outras cidades, a rede subterrânea pode custar de 8 a 10 vezes mais do que a rede aérea. “Em valores absolutos, estudos e especialistas indicam um custo em torno de R$ 300 mil a R$ 436 mil por quilômetro de rede subterrânea instalada. Assim, se BH tiver aproximadamente 10 mil km de fiação aérea a ser convertida, o investimento total poderia chegar à ordem de R$ 3 bilhões a R$ 5 bilhões.” 

Existiria amor suficiente que pagasse essa quantia? A ver.  De toda forma, se não tiver amor, alguma PPP (Parceria Público-Privada) bem que poderia contribuir. E outra: qual seria o retorno sobre o investimento? Mais turismo, menos quedas de árvores (provocadas por podas em “V”), redução de furtos de fiação, de acidentes e etc  

E mais: aumento do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), do Índice de Felicidade — e, quem sabe, do amor, à la Paris. 


Por Rafael Campos
Jornalista | Coordenador de Jornalismo da TV Horizonte
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