Viajar é mais do que trocar de lugar: é abrir caminhos para o conhecimento e descobrir histórias que moldam povos e cidades. Durante uma jornada pela Europa, a parada em Pristina, capital do Kosovo, revelou uma experiência singular: a visita à Biblioteca Nacional de Kosovo, um dos edifícios mais emblemáticos da arquitetura brutalista no mundo.
Inaugurada em 1982, a biblioteca impressiona pela ousadia de seu projeto arquitetônico: um imenso conjunto de blocos retangulares cobertos por 99 cúpulas brancas de diferentes tamanhos, envoltos por uma malha metálica que cobre toda a fachada. A estética polêmica, marcada pelo uso expressivo do concreto e pelas formas monumentais, insere o edifício na tradição do brutalismo, estilo que ganhou força no pós-guerra.
O brutalismo é um estilo arquitetônico surgido no pós-guerra, marcado pelo uso expressivo do concreto aparente, formas geométricas monumentais e uma estética que privilegia a função e a estrutura sobre a ornamentação. Muitas vezes considerado “duro” ou “frio”, o brutalismo também é interpretado como uma linguagem de resistência, que traduz nas edificações a força, a solidez e até a aspereza de contextos sociais e políticos. Essa discussão ganhou eco no cinema recente com o filme “O Brutalista”, indicado ao Oscar 2025, que utiliza a estética do movimento não apenas como pano de fundo visual, mas como metáfora para falar de permanência, reconstrução e da capacidade humana de erguer histórias e identidades em meio às ruínas
Mais do que um prédio, a Biblioteca de Pristina se tornou um símbolo cultural e político. Para alguns, trata-se de uma obra-prima visionária; para outros, de uma construção “dura” e desafiadora ao olhar. Mas é impossível passar por ela sem sentir a força de sua presença e o peso histórico que carrega.
O espaço abriga parte fundamental do patrimônio cultural kosovar, preservando manuscritos raros, coleções históricas e documentos que narram a trajetória de um povo marcado por conflitos, resistência e reconstrução. Caminhar por seus corredores é mais do que contemplar arquitetura: é um mergulho em uma história viva, que pulsa entre o concreto e as palavras.
Curiosidades sobre a Biblioteca Nacional de Kosovo
- 99 cúpulas: muitos acreditam que elas representam a diversidade cultural e étnica do país, embora o arquiteto nunca tenha confirmado.
- Arquitetura polêmica: desde 1982, divide opiniões. Está em listas tanto de obras-primas do brutalismo quanto das “construções mais feias do mundo”.
- A malha metálica: a estrutura que envolve a fachada já foi interpretada como símbolo de proteção do conhecimento.
- História marcada por conflitos: durante a guerra do Kosovo, na década de 1990, o prédio foi utilizado como quartel militar, resultando em perdas no acervo.
- Interior surpreendente: apesar do exterior imponente, o ambiente interno é iluminado pelas cúpulas e cria uma atmosfera acolhedora para estudo e pesquisa.
- Acervo valioso: guarda manuscritos medievais, coleções raras e milhares de documentos que preservam a memória e a cultura do Kosovo.
Por Suelen Ogano | Jornalista