Por: Erlaine Grace
Símbolo de Belo Horizonte e patrimônio mundial reconhecido pela Unesco, a Lagoa da Pampulha carrega mais de oito décadas de história. Projetada no início dos anos 1940, durante a gestão do então prefeito Juscelino Kubitschek, a lagoa nasceu com o objetivo de ser uma grande área de lazer e abastecimento para a capital. O projeto urbanístico do conjunto da Pampulha foi concebido por Oscar Niemeyer, com paisagismo de Roberto Burle Marx e influência urbanística de Lúcio Costa, dentro de uma proposta moderna que unia arte, arquitetura e natureza.
A represa foi formada pela barragem do Córrego Ressaca e do Córrego Sarandi, e tornou-se o centro de um ambicioso projeto de valorização urbana. No entorno, surgiram ícones da arquitetura moderna brasileira como a Igreja de São Francisco de Assis, o Cassino da Pampulha (atual Museu de Arte da Pampulha), a Casa do Baile e o Iate Tênis Clube, todos assinados por Niemeyer. A lagoa se transformou em símbolo da modernidade e da vocação cultural da cidade.
Mas, com o crescimento desordenado de Belo Horizonte e da Região Metropolitana, o cartão-postal passou a enfrentar sérios problemas ambientais. O avanço da ocupação urbana nas bacias que alimentam a lagoa trouxe o lançamento de esgoto doméstico sem tratamento, acúmulo de lixo, assoreamento e poluição das águas. Desde a década de 1970, pesquisadores e ambientalistas alertam para a deterioração contínua da qualidade da água.
Várias iniciativas foram criadas ao longo do tempo para recuperar o espelho d’água. Entre elas, o Programa de Despoluição da Bacia da Pampulha, lançado nos anos 1990, e o Programa Reviva Pampulha, desenvolvido mais recentemente pela Copasa e pela Prefeitura de Belo Horizonte. Apesar de avanços pontuais, como o aumento do número de imóveis conectados à rede de esgoto e o controle do despejo irregular de resíduos, o desafio permanece: a lagoa ainda recebe cargas de esgoto e sedimentos vindos de áreas sem infraestrutura adequada, especialmente na divisa com Contagem.
Estudos da UFMG apontam que a recuperação plena da Lagoa da Pampulha depende de uma gestão contínua e integrada, que envolva não apenas o poder público, mas também a sociedade e os municípios vizinhos. Para os especialistas, é preciso ir além de ações emergenciais de limpeza e investir em saneamento, monitoramento e educação ambiental.
Em 2016, o conjunto moderno da Pampulha foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade, consagrando sua importância histórica e arquitetônica. No entanto, esse título também reforça a responsabilidade de preservá-la. A lagoa que nasceu como símbolo do progresso agora representa o grande desafio de conciliar desenvolvimento urbano, meio ambiente e memória cultural.
A Pampulha é, ao mesmo tempo, espelho da história e termômetro da cidade. O que se reflete em suas águas é o retrato de Belo Horizonte: uma capital que ainda busca equilíbrio entre a beleza que criou e o cuidado que precisa manter.