Pouco mais de 140 quilômetros separam Belo Horizonte da cidade de Curvelo, na região central de Minas Gerais. Segundo o famoso mapa do Google, são cerca de duas horas de viagem, pelo menos no momento em que escrevo este artigo. Mas chegar ao município não é problema: o percurso é simples. Basta pegar a BR-040 e seguir até a rodovia MG-231, na altura de Caetanópolis. Passando por Cordisburgo, terra de Guimarães Rosa, Curvelo está logo adiante, a pouco mais de 30 quilômetros.
Também não será problema para a organização da Stock Car, que irá realizar no município uma etapa originalmente prevista para Belo Horizonte, cidade que não conta com uma estrutura adequada para receber esse tipo de competição automobilística. Foi confirmado em julho que a corrida será disputada nos dias 16 e 17 de agosto no Circuito dos Cristais, como é chamado o autódromo de Curvelo.
Por lá, os pilotos encontrarão duas pistas separadas: um circuito misto de 4,4 quilômetros, com 18 curvas e um desnível de 30 metros — elementos que, segundo o site oficial do espaço, garantem “esportividade adicional e alta competitividade”. O autódromo também abriga o único circuito oval do país, com 1,2 quilômetro. A estrutura inclui 20 boxes, torre de cronometragem, terraço para camarotes e arquibancadas.
Diante de tamanha infraestrutura, fica a pergunta: teria sido mesmo necessário derrubar 63 árvores no entorno do Mineirão? Justifica-se o gasto estimado de R$ 1 milhão pela UFMG para mitigar os impactos ambientais da prova? E o risco às pesquisas da Escola de Veterinária, à fauna local, além de toda a tensão gerada por disputas jurídicas que, no fim, não impediram a realização do evento?
Não ficou claro o motivo real para a mudança de local da Stock Car. Mas o que parece evidente é que, apesar da anunciada compensação ambiental, todo o desgaste causado em Belo Horizonte parece ter sido em vão. A corrida de 2024 aconteceu. O impacto ambiental também. E o saldo, ao menos para quem se importa com o meio ambiente e a coerência nas decisões públicas, é de frustração.
Jornalista: Rafael Campos