Com a chegada das férias escolares de julho, milhares de crianças e adolescentes passam mais tempo em casa ou nas ruas da vizinhança. Nas comunidades, onde o acesso ao lazer seguro é limitado e muitas residências têm instalações elétricas precárias, esse período exige atenção redobrada de pais, responsáveis e lideranças locais. A Cemig e a Abracopel reforçam o alerta para os riscos do uso inadequado da eletricidade, especialmente entre o público infantil. Choques, curto-circuitos, incêndios e acidentes com pipas presas na rede elétrica estão entre as ocorrências mais comuns.
Segundo o Anuário Estatístico da Abracopel, só em 2024 foram registrados 80 acidentes com choque elétrico envolvendo crianças e adolescentes de 0 a 15 anos. Quarenta e nove desses casos resultaram em morte. Desde 2013, o país soma 787 mortes nessa faixa etária provocadas por contato direto ou indireto com a eletricidade. Além dos choques, os incêndios causados por falhas ou sobrecargas elétricas também aparecem como causas recorrentes de óbitos. Em 2024, foram 14 mortes por incêndio elétrico entre crianças e jovens. Desde 2013, esse número chega a 186.
Esses dados reforçam que o ambiente doméstico, muitas vezes visto como seguro, concentra grande parte dos acidentes. Nas comunidades, os riscos se intensificam com fiações expostas, uso excessivo de benjamins, tomadas quebradas, falta de disjuntores ou aterramento, e improvisações feitas sem conhecimento técnico. Crianças pequenas, com sua curiosidade natural, não percebem o perigo ao tocar em tomadas ou eletrodomésticos.
Para o engenheiro eletricista Demétrio Aguiar, da Cemig, a alta taxa de mortalidade está diretamente ligada ao mau uso das instalações e à ausência de dispositivos de proteção, como o IDR, que desliga o circuito automaticamente ao detectar fuga de corrente. Também é essencial evitar o uso de “T”, não sobrecarregar tomadas, não manusear aparelhos com o corpo molhado e desligar eletrônicos durante tempestades. Outro alerta importante diz respeito ao uso do celular durante o carregamento, prática comum entre adolescentes e que pode provocar queimaduras e descargas elétricas em caso de curto.
As brincadeiras com pipa também exigem atenção. Entre janeiro e maio de 2025, a Cemig registrou 853 ocorrências envolvendo pipas em Minas Gerais, afetando 248 mil clientes. Além de causar prejuízos, a prática representa risco de morte. Cerol e linha chilena são proibidos por lei, e nunca se deve tentar resgatar uma pipa presa na rede elétrica.
Em busca de economia, muitas famílias recorrem a soluções improvisadas que aumentam ainda mais o risco de acidentes. A recomendação é que qualquer intervenção elétrica seja feita por profissional qualificado, seguindo as normas técnicas da ABNT. A conscientização é a principal arma contra acidentes. A Cemig mantém o número 116 para denúncias e dúvidas, e os sites da empresa e da Abracopel disponibilizam materiais educativos gratuitos.
Férias devem ser tempo de descanso e alegria. Mas, para garantir a segurança, é preciso olhar com atenção para dentro de casa e para o que acontece na vizinhança. A eletricidade pode ser uma aliada do conforto, mas também representa um risco real quando negligenciada. Nas comunidades, prevenir é cuidar da vida de todos.
Jornalista: Erlaine Grace