Lixo vira luxo: projeto sustentável transforma escola em passarela da moda e consciência ambiental

Na quadra da Escola Estadual Maria Muzzi Guastaferro, na região de Venda Nova, em Belo Horizonte, o lixo virou luxo. E nas salas de aula, a sustentabilidade ganhou corpo, estilo e significado. O que parecia ser apenas mais um projeto pedagógico surpreendeu alunos, professores e toda a comunidade escolar. No lugar de conteúdo tradicional, veio a transformação: papéis, jornais, tecidos, folhas de revistas, copos descartáveis, peças usadas e até CDs arranhados foram ressignificados com criatividade, arte e consciência. 

A iniciativa, em parceria com a Faculdade Dom Helder, Projeto Ecos, teve como principal objetivo despertar nos estudantes o senso de responsabilidade ambiental. E deu certo. “A gente quer que nossas crianças e adolescentes saiam da escola com outra mentalidade”, explicou Janete Procópio, professora de Biologia e emergência climática. 

O começo foi tímido. “O que começou meio frio, de repente a gente não queria mais que acabasse”, relembrou Ana Margarida, professora de Inglês e artista. “Quando dava o horário de encerrar, ninguém queria ir embora. As ideias surgiam sem parar. Em cima da mesa, os materiais se transformavam: um costurava, outro pintava, outro criava. Era arte coletiva, sustentável e educativa. A gente viu que pode modificar o que tem em casa sem gastar dinheiro. Você transforma uma roupa usada, tranquilamente numa roupa nova, diferente, que ninguém tem”, explica a artista. 

E foi nessa vibração que a escola virou passarela. Um dos vestidos apresentados chamou atenção por sua inspiração: o século XIX. “Nosso vestido foi inspirado em 1813, quando as mulheres tinham uma vaidade enorme, uma elegância incrível. A gente quis trazer isso com leveza, com delicadeza, e ao mesmo tempo com ousadia”, destacou a aluna Geovanessa Ramos,15 anos. “É um vestido que traz a essência da mulher, da sofisticação”, completa a estudante Daniele de Freitas Silva, 16 anos.  

A ideia era provocar. Mostrar que mesmo em tempos de regras rígidas, como naquele século, a moda podia falar por si. O decote repensado, a cintura marcada e os tecidos reaproveitados deram forma a um conceito de moda consciente — não inconsciente. “Queríamos demonstrar a força que existe nos pequenos detalhes. Podemos ver beleza em tudo”, completaram Geovanessa e Daniele. 

O projeto também provocou reflexões mais amplas. “Eu gosto de reciclagem, de não jogar lixo no chão, de pensar no meio ambiente. Aprendi que o simples pode fazer uma diferença muito grande no futuro”, disse o aluno Gustavo Henrique da Paixão Nascimento, 15 anos. 

Mais do que uma atividade escolar, a ação virou ferramenta de transformação social e ambiental. “Esse projeto não só me ensinou, mas ensinou a todos os alunos a importância da conscientização. A gente aprendeu que é preciso cuidar do que é nosso, começando pelo planeta”, diz a estudante Rafaela Marques. 

O desfile sustentável mexeu com os alunos. Ao perceberem o potencial dos resíduos, eles se encantaram. “Acho que esse projeto pode influenciar as pessoas com conscientização e mudança de comportamento”, afirma Gael Lucas, 17 anos, estudante. 

 As professoras contam que a reação deles foi incrível. E que foi gratificante ver como eles descobriram que podiam criar algo novo com o que iria para o lixo. “Eu, enquanto professora, aprendi demais. Foi muito bom”, reafirma Ana Margarida. 

Jornalista: Erlaine Grace 
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